Entrevista Exclusiva com José Mojica Marins

















Personagem folclórico da cultura brasileira, revolucionário, maldito, marginal. Com 63 anos de atuação no cinema brasileiro, José Mojica Marins criador do mitológico personagem Zé Do Caixão, sempre traz em suas palavras, novos projetos, idéias de roteiros e a vontade de sempre produzir, apesar das dificuldades de se fazer cinema.
  
Cineasta pioneiro em produzir filmes de horror no Brasil e criador do primeiro personagem de terror feito originalmente para o cinema, o diretor começou a fazer filmes ainda jovem, aos 10 anos. Seu pai trabalhava em uma sala de cinema no centro de São Paulo e ele passou a filmar pequenos curtas e projetá-los para pagar as despesas da produção. Desde então, grande parte de sua obra foi feita com pouca verba.

Com grande identificação com o público jovem, tendo se apresentado junto de bandas de Heavy Metal, o cineasta confunde-se com seu personagem e às vezes não sabemos se é Mojica ou Zé do Caixão quem nos fala.

Redescoberto pela crítica internacional, Cofin Joe (como é conhecido no exterior), foi elogiado pelas principais revistas de cinema do mundo, dentre elas a Cahiers Du Cinema. Homenageado no Sundance Film Festival de 2001 com uma Menção Honrosa,  o cineasta foi apresentado como "Bela Lugosi dos trópicos".  

Cultuado por jovens cineastas que  hoje produzem filmes em celular e câmeras caseiras, inspirados pelo mestr, o cineasta sobreviveu à margem da indústria, produzindo filmes de terror com a nossa cara, que hoje são reconhecidos no mundo todo.

Por Daiverson Machado – daiversom.machado@emiolo.com


O que você diria sobre um jovem que quer fazer cinema?
A sétima arte é a coisa mais forte que nós temos. Fazer cinema é fazer algo cultural e faz você se elevar mais que os outros, tornando-se com o tempo, um ser completo. Em minhas viagens, eu incentivo novos cineastas a se mobilizarem junto aos governos, até mesmo a realizar passeatas com o Presidente da República em busca de verbas.e principalmente que estas verbas tenham destinação corretas.

Qual experiência mais assustadora que você já teve na vida?
Já dormi em cemitérios, necrotério para ver se encontrava alma penada, seres de outro mundo ou alguma coisa nesse sentido, mas não vi nada, por isso não acredito. Mas a experiência mais assustadora da minha vida aconteceu a mais de 10 anos no Rio Grande do Sul, quando eu, minha companheira, amigos e equipe de filmagem, conhecemos um homem que dizia ter  vindo dos EUA com a esposa . Em uma quarta feira de cinzas, ele nos convidou para visitar uma fazenda, propondo-nos então, que ficássemos até na sexta feira. Este homem mostrava ser uma pessoal “legal” e durante a conversa, começou a falar sobre sacrifício de animais e me perguntou o que eu achava sobre sacrifícios humanos. Eu inventei uma história dizendo que isso trazia uma energia negativa que acompanhava e prendia a pessoa para o resto da vida e esta  começava a fazer coisas erradas e que era recomendável evitar sacrifício de humanos. A partir daí, eu comecei a me apavorar. O sujeito apresentou- me o pai, fundador de uma cidadezinha do Rio Grande do Sul, juntamente com a mãe. Já estavam há 20 anos numa cama gemendo. Até aí, o susto foi tão grande que amigos e equipe  de filmagem que me acompanhavam saíram do local, restando-me apenas a minha companheira. O homem pergunta o que nós achamos de acabar com aquilo. Nos demos a entender que era perfeito. Eu pedi para ser liberado, juntamente com minha companheira, amigos e equipe de filmagem. O homem propôs irmos à igreja após o jantar. O local do jantar era, repleto de ratos, gatos, um local muito feio. Após o jantar, seguimos rumo à igreja. Chegando lá, eu descobri que o homem expulsou o padre, consequentemente, encontraram a igreja completamente vazia. Foi feito uma churrascada com vinho, então o homem pediu que eu fizesse um discurso como Mojica e em seguida, outro como Zé do Caixão. Naquele momento, eu já acreditava estar com os dias contados. Aquele homem dizia não gostar de humanos. Senti meu medo aprofundar-se, comentei à minha companheira que o homem parecia querer nos matar. Pensei em inventar algo assustador, sabia que não poderia demonstrar medo, senão poderia ter realmente as nossas vidas ameaçadas. O homem após apresentar os pais, agora queria apresentar o filho, os avós... estávamos num cemitério nos fundos da casa daquele homem. Os ossos estavam fora da terra! Para mim, aquele era o teste final. Ou topava ou virava cadáver eu e a minha companheira. Ao ser apresentado para o “tio”, eu cumprimentei o cadáver. Com as “primas” tive que dançar valsa com o esqueleto, beijá-lo, enquanto era observado pelo homem e seu secretário. Ao fim, tudo terminou bem. O homem após tudo isso disse ter gostado de mim, tornaram-se meus fãs e sugeriu que fizéssemos um filme de vampiro juntos. De volta à São Paulo, eu  e minha companheira fizemos um apanhado do caso, denunciamos ao governo gaúcho e ao Jornal Folha de São Paulo, então descobrimos que para aquele local eram levados jovens sem família. Após investigação o homem foi preso.

























Eu vi em uma entrevista, você falando que um dos primeiros filmes que te deu medo, foi  um filme sobre doenças venéreas. Você acha que o ser humano assusta mais que qualquer alma do outro mundo?
Senti muito medo ao assistir um filme sobre doenças venéreas, mas o que mais me mete medo é o ser humano, pois esse, na minha opinião, faz realmente mal.

Quais são seus próximos projetos?
Eu estou resolvendo com Canal Brasil mais uma temporada que vai até abril de 2011 e tenho viajado até Pouso Alegre, Sul de Minas Gerais, para descobrir mais sobre uma lenda de um homem que cometeu um estupro, onde a população pegou, matou e o interrou.  Mas descobriram que após um ano a terra não havia comido a carne e que de tempo em tempos ele levantava uma das mãos. Então a população queimou o corpo e jogou as cinzas no mar. No tempo em que eu estiver lá, pretendo oferecer duas oficinas na cidade, além de fazer um filme relativo a esta lenda, cujo nome escolhido é “Corpo Seco”.

Mande-nos uma de suas pragas:
Ano de eleição, na minha  opinião é um ano terrível, então eu como Zé do Caixão vou jogar uma praga aos políticos corruptos do Brasil: “A todos os políticos corruptos, que fazem a sua vida sem olhar para o próximo, principalmente a quem o elegeu aqui vai aminha praga: “Que sua língua se transforme em cobra e devore toda as suas entranhas, que sua parte sexual acabe completamente e suas tripas fiquem se arrastando com você por toda a  eternidade sentindo os horrores do que vai acontecer, se de repente e você abusar das pessoas que te elegeram e que precisam da sua ajuda”.

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